terça-feira, 15 de janeiro de 2013

E agora, Danielle Nobile?



E agora? é uma nova seção em nosso blog.

Em nosso cotidiano passamos por diversas situações, com aspectos positivos ou negativos, maiores ou menores repercussões. Certo é que muitas delas podem mudar radicalmente   nossas vidas. E que, depois disso, sempre tem um: E agora?

Com vocês, Danielle Nobile...
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20 de outubro de 2012. Acordamos cedo. Por volta de quatro ou cinco horas da manhã? Não me lembro... Eu era toda adrenalina! Isso me lembro! Claro, eu ia largar!! Nem acredito que me escolheram pra largar! A prova? Revezamento Bertioga-Maresias! 75km que dividimos em três: eu, Paty e Carol.

Lá fomos nós. Nas fotos antes da largada, eu era toda sorrisos! Como sempre, fui! Adrenalina a mil! E eu tinha que dar o meu melhor.

E todas nós demos!

Dor, fome, sede, alegria, suor, companheirismo, postos de troca, isotônico, risadas, fotos, música, muita coisa misturada...

Pegamos 6º lugar no trio feminino! Era minha 50ª medalha (fora as provas que fiz na pipoca).
No dia seguinte já estava com a cabeça na próxima prova: Four Asics Brasília! Seria minha 6ª meia-maratona e o objetivo era fazer abaixo de duas horas. E eu ia conseguir! No treino eu tinha feito 20km em 1:49 e ainda pedalei 30km depois. Tudo indicava que ia dar certo!!!

Mal sabia eu que Bertioga-Maresias seria minha última medalha de corrida por um bom tempo...


22 de outubro de 2012. Nesse dia, minha vida mudou! Capotei o carro 8 vezes e, apesar de nenhum corte no corpo, quebrei uma vértebra e “fui parar” na cadeira de rodas! (pra saber detalhes dessa história, acesse o blog do Jairo Marques, que lá eu já contei tudo!)

Sabe, fiquei realmente surpresa comigo mesma. Não me desesperei por nenhum minuto. Ok, desesperei quando o bombeiro me perguntou se eu conseguia sair do carro sozinha e eu não conseguia! E comecei a gritar: “Moço, eu sou atleta!” E chorava: “eu nunca mais vou correr? É isso?”

Depois, não sei, não me desesperei mais! Minha sensibilidade voltou ainda na sala de Emergência. Claro, bem pouquinha, bem discreta... E os dias foram passando: Sete dias na UTI, cirurgia pra colocar uma placa de titânio no lugar da minha vértebra C7, mais um dia de UTI e quatorze dias no quarto do hospital.

Mas em minha cabeça só havia um pensamento: voltar a correr! 
Todos que iam me visitar diziam que eu não desistisse. “Desistir? Eu não vou desistir enquanto eu não voltar a correr!” Essa era a resposta de sempre.

E dentro de mim eu pensava: “Não vou conseguir viver sem endorfina, meu Deus! O que eu vou fazer?” Vamos ver o que sei fazer:

Correr? Preciso de pernas.
Pedalar? Preciso de pernas (ao menos eu pensava assim. Já já falarei do pedal de novo!)
Nadar? Sim!!!!!!!! Essa era a solução! Comecei a torrar a paciência do médico para me liberar para natação.

Enquanto isso, vim pra casa dos meus pais, comecei a pesquisar e um mundo novo se abriu pra mim. Vários cadeirantes apareceram em minha vida (Thanks God!) e começaram a me tirar até dúvidas bobas, sobre rotina, sobre a  cadeira de rodas e sobre esporte!!!! Vários deles praticam musculação, canoagem e natação... Então eu me animei!

Mas e agora? Bem...

O plano A é ganhar mais medalhas de corrida!

O plano B é ter outro porta-medalhas, de “paranatação”! Pois finalmente meu médico me liberou para entrar na piscina! Dois meses depois da lesão, meu pai entrou comigo e eu arrisquei as minhas primeiras braçadas descoordenadas (segurando nos espaguetes, claro, senão eu ainda afundo!) .
Mas continuei a pesquisar! Há coisas que eu não sabia como funcionavam e existem também um milhão de esportes adaptados. Tem ainda uma tal de classificação funcional (dependendo da lesão você se enquadra nessa ou naquela categoria) e fui procurar qual seria minha classificação na natação. Nesse momento, entrei no site do Comitê Paralímpico Brasileiro.

Também “aluguei” um amigo cadeirante nadador para descobrir um monte de coisas, que me mandou vídeos de competições e então procurei uma escola de natação! Já dei até algumas braçadas, sem o espaguetti, no nado costas.
Mas, não parei por aí! Eu já tinha visto basquete pra cadeirantes, mas não sou muito boa de mira, nem de esportes coletivos (sempre fui baixa e com “excesso” de coordenação motora). Eu já fiz aulas de boxe e boxe chinês e descobri que há boxe pra cadeirante! Estou pensando nisso!
E tem também as handbikes. Descobri que posso pedalar com as mãos e estou louca pra tentar (mesmo ainda estando com os braços fracos, afinal, sou mulherzinha. Eu praticamente só treinava perna!).
Conforme os dias passam, eu pesquiso, faço novos amigos e descubro mais e mais esportes adaptados! Há o vôlei sentado, esgrima, rugby, tênis de mesa... Há muitas opções! Basta escolher uma (ou duas ou mais), parar de preguiça, sair da cama ou sofá, sentar na cadeira de rodas e “rodar” atrás de algo que você goste! Não há porque pensar que, como cadeirante, você precisa ser sedentário!










E há mais um “porém” na minha história esportista e atlética (quem vê, pensa!). Eu havia prometido a alguns amigos que correria a São Silvestre em 2012, mas não pude! Agora esses mesmos amigos me fizeram prometer que eu iria correr com eles a São Silvestre 2013.

Prometi e vou cumprir! A pé ou de cadeira, eu vou e completarei a prova! Afinal, promessa é dívida! (o autor do blog abre parêntes: quem sabe a Dani não desbanca em 2013 a atual campeã Aline Rocha)

Um dia uma pessoa próxima me fez chorar muito, dizendo: “Mesmo que você volte a andar, você não vai conseguir correr de novo. Seu pescoço não vai agüentar o impacto.” Chorei demais mesmo. Mas depois, a pessoa disse: “Mas você pode trabalhar em organização de provas”. Depois que o choque passou, eu pensei que essa pode ser mais uma possibilidade para continuar “ligada” ao esporte!

O esporte (a corrida, no caso) me ajudou muito em 5 anos. Passei por momentos difíceis e superei no treino, me alegrei e comemorei no treino, melhorei meu tempo, conquistei medalhas e pódios e fiz muitos, muitos amigos (que estão sendo essenciais em vários aspectos da minha recuperação).

Tenho certeza que o esporte me ajudou a não me desesperar com minha nova vida, minha nova realidade.  Desde o começo, pensar no esporte foi um alento e agora tem sido uma perspectiva de uma vida ativa e saudável, não importa se como andante ou cadeirante. Na realidade, percebi que há um mundo, vasto e novo, a ser explorado! E nesse mundo eu posso ter mais chances e até ser mais feliz!

O texto foi escrito e cedido pela corredora, atleta e muito ser-humano, Danielle Nobile.

1 comentários:

  1. Força DANI... Estamos com você... precisando pode contar com quem de fato quer te apoiar...

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