sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Sobre ParaCiclismo... e Inclusão Reversa

Ontem no início da tarde fui surpreendido por várias mensagens nas redes sociais a respeito do falecimento de João Alberto Schwindt Filho, 35 anos de idade e um dos maiores ciclistas paralímpicos do Brasil.

João Schwindt havia sido atropelado aos 14 anos e, em decorrência desse acidente, teve perda de alguns movimentos do seu braço direito. O que não lhe impediu de seguir em frente. O acidente de moto na manhã de ontem em Corumbá - GO, sim...

Esse grande paraciclista representou o Brasil em diversos Mundiais. Conquistou medalhas de ouro e bronze no Parapan de Guadalajara em 2011, além de ter alcançado a 4ª colocação nos Jogos Paralímpicos de Londres em 2012. No último dia 19 de dezembro, foi eleito o melhor atleta brasileiro da modalidade pelo Prêmio Paralímpicos, promovido pelo CPB. E certamente despontava como uma promessa para os próximos anos.

O Comitê Paralímpico Brasileiro, de forma honrosa e com todo respeito ao atleta e seus familiares, decretou luto oficial de três dias.

Esse nosso espaço, humildemente presta uma homenagem e aborda o tema Ciclismo Paralímpico.
O ParaCiclismo teve início na década de 80, quando somente haviam provas para atletas com deficiências visuais. Esses atletas participam de competições nas bicicletas Tandem, com auxílio de um atleta guia, pedalando à frente.
O crescimento acelerado da modalidade fez com que nos Jogos Paralímpicos de Nova Iorque (1984) já participassem, além dos atletas com DV, os atletas amputados e com paralisia cerebral. Desde então foram sendo acrescentadas provas de estrada, classes de competidores de acordo com as deficiências, provas no velódromo (talvez minha única decepção nos Jogos de Londres foi não ter entrado nessa arena) e finalmente  a inclusão das provas de handcycling nos Jogos de Sidney em 2000.

Certamente o maior atleta brasileiro da modalidade foi o santista Rivaldo Gonçalves Martins. Ele foi o primeiro paraciclista representando o país em Jogos Paralímpicos (Barcelo-92),  conquistou o título de campeão mundial na prova de contra-relógio na Bélgica em 1994, além de outras medalhas em Parapanamericanos. Rivaldo é amputado da perna esquerda. Hoje disputa provas de paratriathlon e é membro da CBTri.

Além de Rivaldo e João Schwindt, devemos destacar outros grandes atletas da modalidade como Roberto Carlos Silva e Soelito Ghor, ambos medalhistas em Jogos Parapanamericamos. Nas provas de handcycling não há dúvidas que o maior nome no masculino hoje é o atleta Aranha (já comentamos sobre ele em Brasil: Potência Paralímpica de Inverno) e no feminino a paratleta-revelação em 2011, ao menos na minha opinião, Jady Martins.

Jady, a medalha e eu!
Falo assim da Jady pois a conheci quando recém havia sofrido sua lesão e pudemos trabalhar juntos e conhecer muito do que o esporte paralímpico poderia oferecer.

Sinceramente nunca imaginei que ela se tornaria uma atleta, mas não tenho dúvidas que a vivência em diversas modalidades e tipos de atividades físicas fizeram muito bem a essa paranaense guerreira.
Hoje ela é medalhista de Prata no Parapan de Guadalajara e viaja o mundo competindo e trazendo presentes pra mim (essa vale mais um hein?). E eu sou fã, torcedor e um grande amigo: Vai Jaaaady!!!

Quando ela começou a participar de competições, passei a acompanhar as provas de ParaCiclismo, tendo inclusive presenciado sua primeira participação, aqui em Brasília, no início de 2011.

A última etapa do Campeonato Brasileiro de Ciclismo Paralímpico 2012 aconteceu novamente em Brasília no dia 24 de novembro. Infelizmente, o evento não teve a cobertura jornalística que merecia. Culpa dos organizadores? Culpa da mídia esportiva brasiliense? Culpa minha que fiquei sabendo e não divulguei?

Enfim... Um público muito reduzido prestigiou o evento e basicamente foi composto por treinadores, integrantes das comissões organizadoras, amigos e familiares dos atletas ou ainda fãs completamente alucinados pelo esporte.

E mesmo diante de tanta diversidade, de ciclistas amputados das pernas, dos braços ou com extrema movimentação involuntária que dificulta de forma essencial a marcha, continuo fascinado pelas handbikes. Os atletas dessa categoria cada vez mais crescem no Brasil e foi realmente emocionante ver uma largada com tantas "bicicletas de mão".
Handbikers perfilados após a prova
Até agora só falei de ParaCiclismo... onde está a Inclusão Reversa?

Bem, meu fascínio pela handbike é tão grande, que adquiri de um amigo do interior de São Paulo a minha própria handbike.

Claro que não um modelo desses de competição, mas o suficiente para me divertir e fazer um excelente treino físico cardiovascular, de força e resistência para membros superiores. Uma handbike simples e eficiente; capaz de chamar a atenção de muitos que passam por mim, a ponto de ouvir diversos comentários do tipo: "Quê isso pai!? Um bicicleta pra deficiente, meu filho...", somado a um olhar de pena (do adulto) e de "inveja" (da criança).

Quem conhece o que penso sobre inclusão reversa também já consegue imaginar minhas próximas linhas.

Por que uma bicicleta que se pedala com as mãos tem que ser uma bicicleta para deficientes? Por que as pessoas não podem aproveitar esse recurso tecnológico e se divertir como fazem hoje com as supostas bicicletas normais? Qual a razão pela qual pessoas que não têm qualquer deficiência não podem, além de se divertir, competir em provas de handbike, independente da categoria que seja criada para isso?

Enfim, parece que ao criarmos uma modalidade esportiva para pessoas que não têm movimentação nas pernas, excluímos todos aqueles que têm movimentação nas pernas... Seria mesmo necessário?

Quem acessou o post mais cedo leu que eu estava indo pedalar com uns amigos.
Quem quer ser o próximo?

2 comentários:

  1. Esperando um convite para experimentar a handbike.
    Inclusa seus amigos nessa também!
    Lou

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Lou! Está convidada. Quando você quer? Pode aproveitar esse final de 2012 e início de 2013.
      Você está sempre incluída.
      Valeu a presença por aqui.

      Excluir