segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Poesia do Futebol... Mas não é sobre Futebol!



Pode parecer estranho iniciar meu post com uma foto do Maracanã em festa justamente na semana em que o Sport Club Corinthians Paulista conquistou, com grandes méritos e pela primeira vez a Copa do Mundo de Clubes da FIFA. Deixo meus sinceros parabéns para o Timão! E para toda a nação corintiana (que vontade de escrever "nassão curintiana, meu!" mas não vou entrar na provocação), especialmente para meus primos e amigos queridos.

Como já abordei anteriormente, esse é um espaço democrático e que, apesar de torcer apaixonadamente pelo campeoníssimo brasileiro, não cabe transformarmos esse fórum num local de debate clubístico sobre futebol. Podemos fazer isso em outras esferas.

Então basta de futebol por hoje...

Quero apresentar-lhes um texto que produzi em meados de 2008, quando, apesar de ser brasiliense e já saber que corria em mim sangue carioca, pude viver de forma intensa e repetidas vezes o ritual de ir ao Maracanã.

Eu queria também falar que, cada vez que releio o texto, o coração acelera, as fortes emoções retornam... mas seria super clichê e talvez a leitura não te cause a mesma sensação, o que tornariam piegas essas linhas. Com vocês:

Início de tarde de um domingo de sol no Rio de Janeiro. Já fomos à praia em Ipanema, mas nem voltamos para casa. Um banho de mar e um galeto na esquina, qualquer esquina. De lá, direto para o metrô em Copacabana.

E se antes só percebíamos burburinhos na rua, na praia e algumas camisas isoladas, ao entrar na estação do metrô a sonoridade de alguns cantos e urros ecoando nas paredes frias nos relembravam o calor das grandes paixões.

Esse calor pode ser percebido não apenas em razão dos 40°C carioca, mas pelos 40 cariocas no metro quadrado apertando-se dentro do metrô. E não apenas se apertando, mas compartilhando seu amor, seu suor... Gritando e transpirando, com sua camisa favorita colada ao peito.

Estamos nos dirigindo ao Estádio Mário Filho, mundialmente conhecido por Maracanã, para assistir a uma partida de futebol.

Mas que poder move esse aglomerado de homens? Certamente que eles são a imensa maioria, mas porque não dizer também essa massa de mulheres? Quem trocaria o frescor das águas geladas e o delicioso mate gelado nas areias da praia de Ipanema por acotovelar-se em meio a brados de guerra?

Decidi então me afastar e manter-me como espectador privilegiado, não do clássico, mas das multidões. E por alguns instantes certo pavor tomou conta de mim, vindo pensamentos de que em poucos segundos explodiriam todos ali em êxtase e em rompantes incontroláveis de prazer ou loucura. Mas percebi que o movimento desorganizado conseguia manter-se com certa lógica e harmonia.

Ainda dentro da estação do metrô, sem que a partida estivesse iniciada, e para falar a verdade, no mínimo três horas antes dela, torcedores gritavam e cantavam seus hinos a plenos pulmões. Um gasto de energia e uma desinibição como não se vêem em óperas ou teatros da cidade.


Como espectador, miro os torcedores mais próximos de mim e tento imaginá-los com ternos e gravatas, jalecos, em seus consultórios...

Olho à minha direita e vejo um casal, quem sabe um psiquiatra (que na sexta-feira mesmo receitou tranqüilizantes para o jovem que não conseguia concentrar-se nos estudos e tinha insônia durante a madrugada agitado pensando nas tarefas do dia) e uma enfermeira (que no plantão noturno andava a passos silenciosos e acordava com sussurros seus pacientes para medicá-los e medir a pressão). Ambos com olhos esbugalhados, batimentos acima de 90% da freqüência cardíaca máxima, conversando através de frases desconexas e entremeadas com números e o nome de seu time, inquietos sem fixar o olhar e os pés em um só lugar. Talvez o tranqüilizante lhe coubesse agora, e a pressão da enfermeira alertaria o serviço de emergência do hospital em que ela trabalha. Mas isso lhes dá prazer... Não trocariam por nada. E vejam bem: ainda estão dentro do metrô.

Desembarcamos ainda aos empurrões e levados pela multidão praticamente paramos diante dos portões do maior estádio do mundo. Ecoam cantos e coros. Tremulam bandeiras. Ainda como espectador, faço um exercício de imaginar o que poderiam estar esperando dentro desses portões: talvez uma cartela premiada da loteria para cada um? Ou um carro 0km? Poderia ser ainda a esposa ou o marido perfeito! Um mago revelando o segredo da felicidade eterna...

Mas não! O que os espera são 22 jogadores, fantasiados com roupas coloridas e listradas. 03 indivíduos totalmente de preto (macabro não?). E uma bola... Coitada, só para ser chutada.

Essa empolgação dura por 90 minutos. Gritos, choros, provocações. Homens e mulheres que durante a semana se disfarçam de pessoas contidas, tímidas e pacatas transformam-se em cantores, guerreiros, atletas que ensandecidos emitem todos os tipos de sons e pulam das mais variadas formas.

E em segundos vão da extrema alegria à profunda angústia, e ainda assim se recuperam com o fato de um chute da bola na trave adversária.

Ao final, parece que o movimento se acalma, e então percebo que, na verdade, somente metade das pessoas arrasta-se cabisbaixa de volta aos seus habitat, todo o resto, como veio volta...

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