segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Inclusão Reversa na Corrida de Reis

Aconteceu neste fim de semana a 43ª Corrida de Reis, em Brasília! O Evento contou com a participação de quase 12.000 corredores. Apesar da chuva que choveu (o pleonasmo vale pela quantidade de chuva), a linha de largada estava em festa, muitos participantes e muito público... mas muita água.

Mas como cheguei aqui?

Bem, duas semana antes, decidi solicitar minha inscrição na prova. Mas não queria correr,  e sim participar com minha handbike. Tudo bem, handbike não é específica para provas de corrida, deveria ser utilizada em provas de ParaCiclismo. Não custava tentar...

Na verdade as inscrições haviam se encerrado pois não tinham mais vagas. Ainda assim,  enviei uma correspondência eletrônica para a organização do evento com o seguinte pedido:

"Gostaria de participar de um evento tradicional de uma forma prazerosa, mostrando que a deficiência pode ser encarada de uma forma muito natural e que os instrumentos que os deficientes utilizam podem ser utilizados por qualquer um, com grande prazer e benefícios. A isso chamo de inclusão reversa."

Claro que expliquei que eu mesmo não era deficiente e que por esse motivo não iria concorrer à premiação (como se eu tivesse chance!). Apesar da demora na resposta, creio que eles devem ter refletido bastante sobre meu pedido, recebi uma afirmativa da organização faltando apenas 3 dias para a prova.

E lá fui eu buscar meu kit e preparar a handbike. Na entrega do kit começaram as situações engraçadas e inusitadas. O atendente que iria fazer minha inscrição demorou alguns minutos e buscou ajuda para saber se me inscrevia na categoria cadeirante, sendo que eu não sou cadeirante; ou na categoria regular mas para utilizar um implemento da categoria cadeirante. A questão era: quem deveria ser inscrito, a handbike ou eu?

Por fim, fomos inscritos eu e minha handbike na categoria cadeirante, como eu acreditava que deveria ser...

Confesso que no dia quase desisti diante de tanta água, pois estava receoso em pedalar no chão molhado. Mas pouco antes da prova a chuva cessou e foi o suficiente para que eu saísse de casa rumo ao Estádio Mané Garrincha, local da largada. Ledo engano... Estacionei o carro, desci a handbike e enquanto me dirigia à área de aquecimento, a chuva voltou como sempre nesses últimos dias em Brasília. Tudo bem!

Enquanto aquecia, encontrei a campeã da São Silvestre, Aline Rocha. Fiquei muito feliz quando ela confirmou sua participação na prova, pois fui em quem, ao saber que ela estaria em Brasília no dia da Corrida de Reis, dei toda orientação para ela tentar a inscrição. Enfim, iríamos correr juntos.
Acredito que na ansiedade pela corrida eu cheguei um pouco mais cedo. E somente depois de cerca de 20 a 30 minutos que foram chegando outros cadeirantes e atletas da categoria adaptada (nossa largada seria 10 minutos antes da largada geral).

Em meio a todos que chegavam, eu era o cara novo! O atleta desconhecido... Sinceramente estava um tanto quanto desconfortável, com receio inclusive de mexer a perna ou me levantar e as pessoas da categoria adaptada questionarem minha participação. Fundamentalmente, temia não ser aceito! Parece loucura, mas era uma preocupação real: não ser aceito por aqueles que sentem-se rejeitados em diversas situações. 

E assim, eu ficava era quietinho, até mesmo evitando as pessoas. Mas Aline, que ficou perto de mim esse tempo todo, e já era conhecida de muitos por participar dos Circuitos Caixa, rapidamente me apresentava como um "atleta genérico", quebrando qualquer clima que pudesse haver. E no meio dessa galera eu me diverti até o momento da largada.
Quando entramos na área de largada qual foi a minha surpresa ao me deparar com dois atletas do rugby em cadeira de rodas (BSB Quad Rugby), com suas cadeiras de rugby. Para quem não sabe, uma cadeira dessas pode pesar cerca de 15 a 20kg. E seus atletas são, na maioria, tetraplégicos! Coragem pouca hein? Completar 6km e 10km em cadeiras de rugby! Enfim, os caras mostraram que para jogar rubgy tem que ser mesmo casca grossa.

O tempo passava e a concentração e expectativa aumentavam. Enfim, todos perfilados...
E foi dada a largada! Sabe que foi uma decepção. Não sei por qual motivo, a largada da categoria adaptada não é feita com um sinal sonoro como da categoria principal. Um ilustre senhor fez um sinal com o braço... e largamos! Simples assim.

Rapidamente os homens cadeirantes distanciaram-se. Os atletas de rugby ficaram presos na linha de largada, que tinha um desnível. Eu fui acelerando pouco a pouco e logo alcancei as mulheres e alguns homens, mas o pelotão de frente já estava "inalcançável", ou seja, longe mesmo!

O percurso da Corrida de Reis é mais ou menos assim: 600 metros de subida, 100 metros plano, descida, descida, descida, descida... até quase os 6km de prova! E então, subida, até o final.

Creio que a organização da prova nunca fez esse percurso sobre rodas. Na descida, o atleta poderia até deixar na "banguela". Fiz força e alcancei a velocidade de quase 60km/h em alguns trechos. Na subida... bem, na subida não existia a chance de parar de pedalar por um segundo para descansar os braços. Claro que eu não sou altamente treinado e capacitado para fazer força com os braços, mas acredito que um percurso com trechos mais planos ou alternando entre subidas e descidas seria mais desafiador de modo geral. Enfim, minha leiga opinião!

Altamente positivo no percurso dessa prova, assim como de várias outras em Brasília, são os monumentos e a beleza da cidade.
Durante quase toda a prova, estive sozinho. Deixei para trás alguns atletas cadeirantes logo no início. E depois não via mais ninguém. Os outros estavam muito na frente. No entanto, já na subida, e próximo ao Teatro Nacional, comecei a me aproximar de mais um cadeirante. Eu todo empolgado com meu desempenho acelerei e ultrapassei... Mas ele tinha um pneu furado e quase não rodava mais. Só por isso passei na frente dele! Tanto que ainda deu tempo pra tirar uma fotinha!
Logo após a subida da Rodoviária fui ultrapassado pelos líderes da categoria Elite. Quase não deu tempo para tirar a foto. Os irmãos gêmeos voavam para ganhar a prova!
E eu rodava, com muito, mas muito esforço, até enfim alcançar a linha de chegada.

Aqui cabe um comentário que não havia feito ainda, apesar de já ter percebido desde o começo uma grande diferença do olhar dos outros.

Tenho um contato próximo com a galera cadeirante e deficiente desde o ano de 2003. Uma queixa constante de mães, crianças, jovens e adultos, é quanto ao olhar da sociedade para com eles. Diziam que percebiam um olhar de pena que os incomodava!

Senti isso desde o começo. Não considero que seja um absurdo e até mesmo compreendo esses olhares. Mas creio que são olhares causados pelo desconhecimento. Mas que realmente também me incomodavam...

Ao aproximar-me da linha de chegada, um grande público esperava os atletas. Claro que ninguém sequer imaginava que eu não seria deficiente. E minha passagem causava uma grande comoção nas pessoas. Inicialmente aquela situação mexeu comigo, como se eu fosse uma fraude! Mas diante da força que eu fazia e da tremenda dificuldade em completar a prova, tomei aqueles gritos de incentivo e aplausos de reconhecimento para mim, não pela "pena" de ser um provável deficiente, mas pela certeza de estar concluindo um desafio proposto. E pronto! Como deve ser com qualquer um e com todos de nós.
Ao final, completei os 10km em 33 minutos. Fiquei em 4º colocado na categoria cadeirante!

E apesar de já ter concluído outras provas de 10km, 21km correndo, confesso que fui mais desafiado em minha condição física ao pedalar com as mãos. Não foi fácil, ao mesmo tempo que foi muito legal competir com uma handbike. 

E valeu a medalha...
Ah, a Aline Rocha, faturou mais um título e já afirmou que ano que vem volta para defender sua condição de campeã da Corrida de Reis.

Quem sabe eu volto também... Alguém mais anima?

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

E agora, Danielle Nobile?



E agora? é uma nova seção em nosso blog.

Em nosso cotidiano passamos por diversas situações, com aspectos positivos ou negativos, maiores ou menores repercussões. Certo é que muitas delas podem mudar radicalmente   nossas vidas. E que, depois disso, sempre tem um: E agora?

Com vocês, Danielle Nobile...
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20 de outubro de 2012. Acordamos cedo. Por volta de quatro ou cinco horas da manhã? Não me lembro... Eu era toda adrenalina! Isso me lembro! Claro, eu ia largar!! Nem acredito que me escolheram pra largar! A prova? Revezamento Bertioga-Maresias! 75km que dividimos em três: eu, Paty e Carol.

Lá fomos nós. Nas fotos antes da largada, eu era toda sorrisos! Como sempre, fui! Adrenalina a mil! E eu tinha que dar o meu melhor.

E todas nós demos!

Dor, fome, sede, alegria, suor, companheirismo, postos de troca, isotônico, risadas, fotos, música, muita coisa misturada...

Pegamos 6º lugar no trio feminino! Era minha 50ª medalha (fora as provas que fiz na pipoca).
No dia seguinte já estava com a cabeça na próxima prova: Four Asics Brasília! Seria minha 6ª meia-maratona e o objetivo era fazer abaixo de duas horas. E eu ia conseguir! No treino eu tinha feito 20km em 1:49 e ainda pedalei 30km depois. Tudo indicava que ia dar certo!!!

Mal sabia eu que Bertioga-Maresias seria minha última medalha de corrida por um bom tempo...


22 de outubro de 2012. Nesse dia, minha vida mudou! Capotei o carro 8 vezes e, apesar de nenhum corte no corpo, quebrei uma vértebra e “fui parar” na cadeira de rodas! (pra saber detalhes dessa história, acesse o blog do Jairo Marques, que lá eu já contei tudo!)

Sabe, fiquei realmente surpresa comigo mesma. Não me desesperei por nenhum minuto. Ok, desesperei quando o bombeiro me perguntou se eu conseguia sair do carro sozinha e eu não conseguia! E comecei a gritar: “Moço, eu sou atleta!” E chorava: “eu nunca mais vou correr? É isso?”

Depois, não sei, não me desesperei mais! Minha sensibilidade voltou ainda na sala de Emergência. Claro, bem pouquinha, bem discreta... E os dias foram passando: Sete dias na UTI, cirurgia pra colocar uma placa de titânio no lugar da minha vértebra C7, mais um dia de UTI e quatorze dias no quarto do hospital.

Mas em minha cabeça só havia um pensamento: voltar a correr! 
Todos que iam me visitar diziam que eu não desistisse. “Desistir? Eu não vou desistir enquanto eu não voltar a correr!” Essa era a resposta de sempre.

E dentro de mim eu pensava: “Não vou conseguir viver sem endorfina, meu Deus! O que eu vou fazer?” Vamos ver o que sei fazer:

Correr? Preciso de pernas.
Pedalar? Preciso de pernas (ao menos eu pensava assim. Já já falarei do pedal de novo!)
Nadar? Sim!!!!!!!! Essa era a solução! Comecei a torrar a paciência do médico para me liberar para natação.

Enquanto isso, vim pra casa dos meus pais, comecei a pesquisar e um mundo novo se abriu pra mim. Vários cadeirantes apareceram em minha vida (Thanks God!) e começaram a me tirar até dúvidas bobas, sobre rotina, sobre a  cadeira de rodas e sobre esporte!!!! Vários deles praticam musculação, canoagem e natação... Então eu me animei!

Mas e agora? Bem...

O plano A é ganhar mais medalhas de corrida!

O plano B é ter outro porta-medalhas, de “paranatação”! Pois finalmente meu médico me liberou para entrar na piscina! Dois meses depois da lesão, meu pai entrou comigo e eu arrisquei as minhas primeiras braçadas descoordenadas (segurando nos espaguetes, claro, senão eu ainda afundo!) .
Mas continuei a pesquisar! Há coisas que eu não sabia como funcionavam e existem também um milhão de esportes adaptados. Tem ainda uma tal de classificação funcional (dependendo da lesão você se enquadra nessa ou naquela categoria) e fui procurar qual seria minha classificação na natação. Nesse momento, entrei no site do Comitê Paralímpico Brasileiro.

Também “aluguei” um amigo cadeirante nadador para descobrir um monte de coisas, que me mandou vídeos de competições e então procurei uma escola de natação! Já dei até algumas braçadas, sem o espaguetti, no nado costas.
Mas, não parei por aí! Eu já tinha visto basquete pra cadeirantes, mas não sou muito boa de mira, nem de esportes coletivos (sempre fui baixa e com “excesso” de coordenação motora). Eu já fiz aulas de boxe e boxe chinês e descobri que há boxe pra cadeirante! Estou pensando nisso!
E tem também as handbikes. Descobri que posso pedalar com as mãos e estou louca pra tentar (mesmo ainda estando com os braços fracos, afinal, sou mulherzinha. Eu praticamente só treinava perna!).
Conforme os dias passam, eu pesquiso, faço novos amigos e descubro mais e mais esportes adaptados! Há o vôlei sentado, esgrima, rugby, tênis de mesa... Há muitas opções! Basta escolher uma (ou duas ou mais), parar de preguiça, sair da cama ou sofá, sentar na cadeira de rodas e “rodar” atrás de algo que você goste! Não há porque pensar que, como cadeirante, você precisa ser sedentário!










E há mais um “porém” na minha história esportista e atlética (quem vê, pensa!). Eu havia prometido a alguns amigos que correria a São Silvestre em 2012, mas não pude! Agora esses mesmos amigos me fizeram prometer que eu iria correr com eles a São Silvestre 2013.

Prometi e vou cumprir! A pé ou de cadeira, eu vou e completarei a prova! Afinal, promessa é dívida! (o autor do blog abre parêntes: quem sabe a Dani não desbanca em 2013 a atual campeã Aline Rocha)

Um dia uma pessoa próxima me fez chorar muito, dizendo: “Mesmo que você volte a andar, você não vai conseguir correr de novo. Seu pescoço não vai agüentar o impacto.” Chorei demais mesmo. Mas depois, a pessoa disse: “Mas você pode trabalhar em organização de provas”. Depois que o choque passou, eu pensei que essa pode ser mais uma possibilidade para continuar “ligada” ao esporte!

O esporte (a corrida, no caso) me ajudou muito em 5 anos. Passei por momentos difíceis e superei no treino, me alegrei e comemorei no treino, melhorei meu tempo, conquistei medalhas e pódios e fiz muitos, muitos amigos (que estão sendo essenciais em vários aspectos da minha recuperação).

Tenho certeza que o esporte me ajudou a não me desesperar com minha nova vida, minha nova realidade.  Desde o começo, pensar no esporte foi um alento e agora tem sido uma perspectiva de uma vida ativa e saudável, não importa se como andante ou cadeirante. Na realidade, percebi que há um mundo, vasto e novo, a ser explorado! E nesse mundo eu posso ter mais chances e até ser mais feliz!

O texto foi escrito e cedido pela corredora, atleta e muito ser-humano, Danielle Nobile.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Seu MACACO do bARALHO!

México, 1968. O americano Tommie Smith bate o recorde mundial na prova dos 200 metros rasos, seguido em 3º lugar pela seu compatriota John Carlos. Ambos, negros de nascença (como se houvesse outra forma...).

Itália, 2013. O time Pro Patrio, da 4ª divisão do campeonato italiano recebe em sua cidade o poderoso Milan AC para um jogo amistoso. Entre os jogadores do Milan estava o alemão Boateng, negro de berço (como se houvesse outra forma...).

Brasil, 2010. O Palmeiras vence o Atlético-PR pelo placar magro de 1 a 0 em partida válida pela Copa do Brasil, em jogo marcado por embrólio envolvendo o jogador Manoel, do time rubro-negro e negro de nascença (precisa falar de novo?).

Brasil, 2011. Um dos grandes jogos da semi-final de voleibol masculino pela SuperLiga acontece em Minas Gerais entre as equipes Cruzeiro e Volei Futuro. Um jogador que nunca foi negro foi destaque na partida e no noticiário...

No pódio, durante o hino nacional americano, Tommie Smith e John Carlos ergueram o braço com o punho cerrado e uma luva negra na mão. Esse gesto era a saudação "Raised Fist" do Partido Político Pantera Negra que lutava, muitas vezes de forma violenta, a favor dos negros americanos buscando igualdade de condições e a compensação por séculos de exploração.

Na minha opinião, essa pode ser considerado até hoje como uma das grandes expressões esportivas contra o racismo. Atitude que levou à expulsão dos dois atletas daqueles Jogos Olímpicos e ao banimento do esporte.

Revoltante não? A própria organização dos Jogos reprimirem uma manifestação contra o racismo. Claro que há que se considerar que o gesto realizado tinha relação direta com questões político-partidárias, das quais o Movimento Olímpico até hoje busca distanciar-se...

Mas infelizmente esse tema ainda não foi superado. E cada dia nos vemos pasmos diante de notícias constragedoras a respeito do racismo e preconceito.

Um fato chocou o mundo logo no início do ano em jogo amistoso de futebol a equipe do Milan e o desconhecido Pro Patria (da 4ª divisão do Campeonato Italiano). Os torcedores propatrianos cantavam hinos de ofensa racial a Boateng durante boa parte do jogo até que o atleta do Milan irritou-se e interrompeu a partida. Nesse vídeo vemos que toda a equipe do Milan manifestou seu apoio ao jogador e...
O clube Pro Patria recebeu por essa agressão de seus torcedores a severa pena de jogar uma partida do Campeonato Italiano com portões fechados. Talvez seja justamente esse um dos motivos de grande ocorrência desses fatos no país da Esquadra Azurra!

Em abril/11 um outro fato igual mas diferente aconteceu no nosso Brasil. Durante um jogo de voleibol pela SuperLiga, a torcida do Cruzeiro hositlizou o jogador Michael, que já havia se pronunciado quanto à sua homossexualiadade, com o intuito de provocá-lo e tirar sua concentração da partida.
A punição dada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva foi uma multa de R$ 50 mil a ser paga pelo time do Cruzeiro. Essa decisão inédita de condenação de um clube por ato homofóbico talvez tenha prejudicado a equipe do Cruzeiro em valor semelhante ao que deixou de ganhar a equipe Pro Patria na Itália, que não teve renda em uma partida do Campeonato. Muitos consideraram a decisão acertada, mas branda em seu rigor.

Contudo, muito melhor que a decisão do STJD, foi a solidariedade dos atletas que entraram no jogo seguinte vestindo de forma simpática uma camisa rosa, ao mesmo tempo em que sua torcida erguia um bandeirão e agitava balões temáticos.
Certo mesmo é que não podemos tolerar ações semelhantes em qualquer esfera do esporte... da vida! E um bom exemplo de não tolerância aconteceu no caso do atleta Danilo, ex-Palmeiras, que em jogo da Copa do Brasil-2010 irrompeu em fúria e ofendeu o jogador Manoel (do Atlético-PR) alcunhando-o de "Macaco do Baralho", não necessariamente baralho sendo o jogo de cartas...

Na época da agressão, o STJD condenou o jogador a 11 jogos de suspensão e um plus de R$ 6.000,00 em cestas básicas. Essa semana, o Tribunal de Justiça de SP também condenou o atleta, atualmente no time da Udinese na Itália, a pagar R$ 366.000,00 a entidade social, por crime de injúria racial.

Mas será que é tão difícil saber jogar e saber torcer? Será que um dia iremos aprender formas pacíficas de convivência no esporte? E que não sejam tão somente nas campanhas publicitárias, faixas, camisetas e abraços...
A mim me parece descabido qualquer ato de agressão verbal a um atleta (ser humano!) seja em campo ou na arquibancada referente a sua cor, credo, raça ou sei lá o quê!!! E bem acredito que qualquer dos torcedores que gritaram "bicha" para o Michael, ou o próprio Danilo afirmariam em concordância comigo a esse respeito...

Então que estado é esse que o ser humano(?) assume no esporte? O que acontece com a gente quando joga ou torce?

Lembro certa vez de assistir em quadra a um jogo de basquete com um grande amigo, Rodrigo Galego. E de forma característica, no momento dos arremessos de lance livre da equipe adversária, a torcida do time de Brasília pronunciava-se com vaias, xingamentos e barulho. Esse amigo virou e disse que não suportava as pessoas atuando daquela maneira. E completou: "eu quero que eles acertem todas e tenham o melhor desempenho possível. E que mesmo assim o time de Brasília seja superior." Confesso que nunca fui de vaiar times ou jogadores, apesar de já ter feito muito barulho para que o erro do adversário acontecesse, principalmente em jogos do meu time Campeão Brasileiro... Mas aquela fala me deixou pensativo.

Seria mesmo agir de forma errada torcer muito para um jogador errar um penalti, não acertar uma cesta, falhar na saída do bloco de partida ou numa virada na natação? Não creio que seja assim com esse rigor todo. Mas o extremo é bom para nos aproximarmos de uma ponderação e principalmente de uma reflexão.

E reflexão me traz à mente a imagem do espelho!
Um espelho que cada atleta, professor, aluno, técnico, árbitro, juiz, torcedor deve encarar e por fim (ou por início ou por meio) assumir sua condição na vida... no esporte!

"Seu preconceituoso do baralho!!!"