México, 1968. O americano Tommie Smith bate o recorde mundial na prova dos 200 metros rasos, seguido em 3º lugar pela seu compatriota John Carlos. Ambos, negros de nascença (como se houvesse outra forma...).
Itália, 2013. O time Pro Patrio, da 4ª divisão do campeonato italiano recebe em sua cidade o poderoso Milan AC para um jogo amistoso. Entre os jogadores do Milan estava o alemão Boateng, negro de berço (como se houvesse outra forma...).
Brasil, 2010. O Palmeiras vence o Atlético-PR pelo placar magro de 1 a 0 em partida válida pela Copa do Brasil, em jogo marcado por embrólio envolvendo o jogador Manoel, do time rubro-negro e negro de nascença (precisa falar de novo?).
Brasil, 2011. Um dos grandes jogos da semi-final de voleibol masculino pela SuperLiga acontece em Minas Gerais entre as equipes Cruzeiro e Volei Futuro. Um jogador que nunca foi negro foi destaque na partida e no noticiário...
No pódio, durante o hino nacional americano, Tommie Smith e John Carlos ergueram o braço com o punho cerrado e uma luva negra na mão. Esse gesto era a saudação "Raised Fist" do Partido Político Pantera Negra que lutava, muitas vezes de forma violenta, a favor dos negros americanos buscando igualdade de condições e a compensação por séculos de exploração.
Na minha opinião, essa pode ser considerado até hoje como uma das grandes expressões esportivas contra o racismo. Atitude que levou à expulsão dos dois atletas daqueles Jogos Olímpicos e ao banimento do esporte.
Revoltante não? A própria organização dos Jogos reprimirem uma manifestação contra o racismo. Claro que há que se considerar que o gesto realizado tinha relação direta com questões político-partidárias, das quais o Movimento Olímpico até hoje busca distanciar-se...
Mas infelizmente esse tema ainda não foi superado. E cada dia nos vemos pasmos diante de notícias constragedoras a respeito do racismo e preconceito.
Um fato chocou o mundo logo no início do ano em jogo amistoso de futebol a equipe do Milan e o desconhecido Pro Patria (da 4ª divisão do Campeonato Italiano). Os torcedores propatrianos cantavam hinos de ofensa racial a Boateng durante boa parte do jogo até que o atleta do Milan irritou-se e interrompeu a partida. Nesse vídeo vemos que toda a equipe do Milan manifestou seu apoio ao jogador e...
O clube Pro Patria recebeu por essa agressão de seus torcedores a severa pena de jogar uma partida do Campeonato Italiano com portões fechados. Talvez seja justamente esse um dos motivos de grande ocorrência desses fatos no país da Esquadra Azurra!
Em abril/11 um outro fato igual mas diferente aconteceu no nosso Brasil. Durante um jogo de voleibol pela SuperLiga, a torcida do Cruzeiro hositlizou o jogador Michael, que já havia se pronunciado quanto à sua homossexualiadade, com o intuito de provocá-lo e tirar sua concentração da partida.
A punição dada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva foi uma multa de R$ 50 mil a ser paga pelo time do Cruzeiro. Essa decisão inédita de condenação de um clube por ato homofóbico talvez tenha prejudicado a equipe do Cruzeiro em valor semelhante ao que deixou de ganhar a equipe Pro Patria na Itália, que não teve renda em uma partida do Campeonato. Muitos consideraram a decisão acertada, mas branda em seu rigor.
Certo mesmo é que não podemos tolerar ações semelhantes em qualquer esfera do esporte... da vida! E um bom exemplo de não tolerância aconteceu no caso do atleta Danilo, ex-Palmeiras, que em jogo da Copa do Brasil-2010 irrompeu em fúria e ofendeu o jogador Manoel (do Atlético-PR) alcunhando-o de "Macaco do Baralho", não necessariamente baralho sendo o jogo de cartas...
Na época da agressão, o STJD condenou o jogador a 11 jogos de suspensão e um plus de R$ 6.000,00 em cestas básicas. Essa semana, o Tribunal de Justiça de SP também condenou o atleta, atualmente no time da Udinese na Itália, a pagar R$ 366.000,00 a entidade social, por crime de injúria racial.
Mas será que é tão difícil saber jogar e saber torcer? Será que um dia iremos aprender formas pacíficas de convivência no esporte? E que não sejam tão somente nas campanhas publicitárias, faixas, camisetas e abraços...
A mim me parece descabido qualquer ato de agressão verbal a um atleta (ser humano!) seja em campo ou na arquibancada referente a sua cor, credo, raça ou sei lá o quê!!! E bem acredito que qualquer dos torcedores que gritaram "bicha" para o Michael, ou o próprio Danilo afirmariam em concordância comigo a esse respeito...
Então que estado é esse que o ser humano(?) assume no esporte? O que acontece com a gente quando joga ou torce?
Lembro certa vez de assistir em quadra a um jogo de basquete com um grande amigo, Rodrigo Galego. E de forma característica, no momento dos arremessos de lance livre da equipe adversária, a torcida do time de Brasília pronunciava-se com vaias, xingamentos e barulho. Esse amigo virou e disse que não suportava as pessoas atuando daquela maneira. E completou: "eu quero que eles acertem todas e tenham o melhor desempenho possível. E que mesmo assim o time de Brasília seja superior." Confesso que nunca fui de vaiar times ou jogadores, apesar de já ter feito muito barulho para que o erro do adversário acontecesse, principalmente em jogos do meu time Campeão Brasileiro... Mas aquela fala me deixou pensativo.
Seria mesmo agir de forma errada torcer muito para um jogador errar um penalti, não acertar uma cesta, falhar na saída do bloco de partida ou numa virada na natação? Não creio que seja assim com esse rigor todo. Mas o extremo é bom para nos aproximarmos de uma ponderação e principalmente de uma reflexão.
E reflexão me traz à mente a imagem do espelho!
Um espelho que cada atleta, professor, aluno, técnico, árbitro, juiz, torcedor deve encarar e por fim (ou por início ou por meio) assumir sua condição na vida... no esporte!
"Seu preconceituoso do baralho!!!"
Amei. Uma texto muito bem conduzido, com bons argumentos e permeado por humor. Esse blog vai longe!
ResponderExcluirBeijos
Oi Fernanda! Vindo de ti é um grande elogio. Muito obrigado pelo apoio e força com o blog! Devo muito... Beijos
ExcluirGuigo, parabéns! Lindo o texto ( se é que texto pode ser lindo!! rss). Muito bem escrito. Deixa o leitor interessado e querendo ir até o final. Como te falei, eu que estou perdida entre muitas linhas aqui na net, tem de ser algo bom para eu ir até o final... valeu a pena!Vai guardando aí. Vamos colocar esse e os outros em livro daqui a um tempo, blz? bjs.
ResponderExcluirOi Tia Dora! Obrigado. Suas palavras são muito consideradas por mim! Bom saber que mesmo diante de tantas linhas ainda conseguimos deixar o leitor querendo ir até o final. Eu tenho refletido bastante sobre isso. Vamos conversar mais! Bjs e obrigado também pela proposta.
ExcluirParabéns Gui!!! Como eu já disse: "seu blog e seus textos tem imãs!"
ResponderExcluirMesmo aquele que passar por aqui com pressa e com a intenção de "ler só um pouquinho" certamente não conseguirá fazê-lo, pois, são textos descontraídos e muito bem elaborados, que nos prendem do começo ao fim!
Sensacional, seu blog vai longeee!!! Bjs.
Bruninha. (SC)
Oi Bruninha! Você sabe que sou seu fã! Estou aguardando a publicação dos seus livros. Muito obrigado pelo carinho e pelas visitas. Se é imã, estou sempre esperando o seu retorno no blog. E dá sempre sua opinião, que é bem importante pra mim.
ExcluirObrigado de novo! Beijos
Parabéns Guigo pela forma como escreve tao bem. Sou mais uma leitora e fã!
ResponderExcluirVejo um futuro colunista do esporte humm quem sabe na revista sentidos?! Sou assinante dess revista!!!! Beijos Yoko Farias de Recife
Oi Yoko! Muito obrigado pela sua atenção aqui no blog! Volte sempre... Sobre colunista de esporte, não é minha pretensão no momento! kkkk Mas sensacional sua confiança! Valeu! E abraços pra ti e pro povo do Recife!
ExcluirParabéns professor!!! Admiro quem se propõe a organizar suas idéias e compartilhar com os outros, ainda mais quem faz isso bem como você.
ResponderExcluirCom relação ao texto, acho que o esporte nos coloca em contato com emoções muito intensas independente do papel que você esteja exercendo no momento, seja como técnico, atleta, preparador físico, professor ou expectador. Dessa forma as pessoas ficam expostas e muitas vezes suas características ficam evidêntes, como a determinação, liderança e equilíbrio proporcionando momentos memoráveis. No entanto, ao se expor muitas vezes aparecem as fraquezas, como o medo, a ganância e o pior de todos o desejo de vitória a qualquer custo, mesmo que se tenha que ofender o adversário, ou burlar uma regra... Teremos no esporte o reflexo das ações que as pessoas tem na "vida real", e em um mundo que muitos acham que o importante e ser mais "esxxperto" e levar vantagem presenciamos cenas lamentáveis.
Parabéns pelo texto e obrigado pela oportunidade de reflexão...
Um abraço!!
João Veloso
Professor João Veloso! Muito grato pela sua colaboração. Sensacional suas palavras. Já está convidado a participar do blog com um texto. Quando quiser e tiver um texto pronto esse espaço é seu também!
ExcluirEstamos juntos em compartilhar!
E vamos seguir em frente! Educando para o esporte! Educando para a vida!
Grande Guigo..
ResponderExcluirComo fui citado aqui, venho completar com ideias seus posts.
Bom... não lembro exatamente do lance em que citou mas parte do que disse eu acredito mesmo. Sinceramente creio que já amadureci o suficiente para saber que o time adversário torcer para errar é muito comum. Não vejo problema com isso. A vaia ou o barulho para "desconcentrar" acho que faz parte do espetáculo. O que me incomoda é uma situação dessa num jogo de atletas em formação, com 10 anos por exemplo. Os pais estão ali assistindo e de repente, com o argumento que estão torcendo pelo bem de seus filhos e sua equipe, começam a gritar e vaiar( e muitas vezes até xingar). Eu mesmo em meus jogos de base sempre oriento aos pais a torcerem a favor de nossa equipe e não contra a outra. Até porque o adversário é meu espelho: É ele que faz ser mais, que me desafia e que faz tirar de mim a força necessária para tentar superá-lo.
Mas esse é um tema bem vasto pois estamos tratando de uma ética esportiva. Tema vago no deporto Brasileiro infelizmente. Recentemente assistindo a um jornal esportivo sai uma matéria em destaque que dizia que um atleta de futebol avisou o juiz que a falta que foi marcada nele pra ser penalti, não havia sido falta. Assisti aquela matéria orgulhoso.. com bom texto a matéria conduzia e valorizava a questão ética do atleta e os valores que ali estavam muito além do resultado. Pensava eu enquanto assistia que seria uma ótima matéria para os mais jovens refletirem. E aí, quando acaba a matéria, há um foco no apresentador com as mãos na cintura fazendo cara de pouco caso com o seguinte comentário: "Queria ver se tivesse perdendo". Eu também queria ver se tivesse perdendo, seria legal essa crítica se ali no programa ele já não decretasse que aquela ação era pura "propaganda".
Enfim... é um assunto vasto onde muitas postagens do seu blog podem ajudar a tocar no assunto e que me deram algumas ideias para ver se também posto algo sobre o tema. Quem sabe não fazemos uma "tabelinha" sobre esse assunto.
Abraço e parabéns pelas postagens!
Sinceramente só tenho a agradecer...
ExcluirObrigado pela colaboração. Esse espaço também é seu. Fique à vontade para tomar a palavra quando quiser. O texto não busca encerrar esse assunto realmente. A discussão da ética esportiva infelizmente é mais tratada quando falamos de fair play no futebol, mas ela alcança todos os níveis da "esportividade".
Vamos em frente refletindo e mostrando caminhos... Conto contigo! Valeu Galego!