segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Acabou! Em breve, os melhores dias de nossas vidas

Outro dia minha mãe percebeu que eu não estava vendo jogo de futebol na televisão e me perguntou: "Acabou o campeonato?" Pois é mãe, o campeonato acabou, o jogo terminou, o dia escureceu... Mas tem de novo! Tudo de novo!

E que bom que a nossa vida é feita de ciclos. Concluímos uma etapa, tomamos fôlego e recomeçamos. Claro que amanhã pouca coisa vai mudar assim como passe de mágica. Entretanto, certamente ao final da contagem regressiva dessa noite, após os abraços e desejos entre amigos e familiares estaremos renovados e com nova disposição.

Mas renovados e com disposição para quê?

Bem, minha mensagem nesse fim de ano será ilustrada com esse vídeo. E comentada logo depois, senão não seria eu...
Adoro esporte! Quem me conhece sabe que sou muito fã. E o que vimos nesses 4 minutos me fez pensar que nossa vida é como o esporte.

Existe uma preparação. Todos os dias...

Temos nossos objetivos. Nem sempre os alcançamos, mas outras vezes com perfeição e muito além do que esperávamos os agarramos com toda força.

Choramos, sorrimos. Encontramos razões e motivos que nos impulsionam. E não são poucos.

A gente vai em frente. Faz força, cai e se levanta. Surpreendemo-nos e também a quem nos acompanha.

Ah sim, sem dúvida alguma temos uma torcida alucinada que está de olho, que grita, chora e se emociona. Que prende a respiração e explode quando as coisas acontecem como esperamos. Mas que não tira o olho quando não deu...

E então respondo:

Renovados para que a cada dia, nunca mais vejamos nossas vidas como antes.

E dispostos a fazer de cada dia, os melhores dias de nossas vidas!

Eu estou na torcida! Pulando na arquibancada e esperando viver tudo de novo! E ainda mais!

domingo, 30 de dezembro de 2012

HardCore Sitting (???)

Carving, grinding, power-slinding são manobras comuns em pistas de BMX freestyle e skate. Mas dropar rampas de forma alucinada em cadeira de rodas é algo ainda um tanto surreal. Ou não?

Pois bem, o HardCore Sitting surgiu em meados de 2007 na cidade de Las Vegas, California. E tem seu principal representante o atleta Aaron Fotheringham, que nasceu com espinha bífida e passou a utilizar a cadeira de rodas como forma principal de deslocamento a partir dos 8 anos de vida.

Mas a cadeira de rodas não foi vista por ele de forma tão simples assim.

Parecia que algo muito especial estava sendo preparado na vida desse garoto que não se mostrava nada satisfeito quando acompanhava seu irmão nos treinos de BMX freestyle.

Somente ver o seu irmão e colegas executarem aquelas manobras radicais não era suficiente para Aaron. E ele começou a utilizar sua cadeira de rodas nas pistas de skate.

Sobravam coragem, ousadia e criatividade.

Aos poucos Aaron foi aperfeiçoando sua técnica, desenvolvendo novas manobras e acrescentando desafios em cima de sua cadeira de rodas.
Em julho de 2006 Aaron foi o primeiro ser humano (até porque não teve outro ser que já fez isso) a realizar um backflip em cadeira de rodas.
A partir de então a modalidade firmou e esse atleta passou a inovar cada vez mais. Atualmente Aaron é integrante de um seleto grupo de atletas de alto nível do esporte radical da Nitro Circus, tem diversos patrocinadores e se apresenta pelo mundo em eventos na Mega Rampa.

E esse nível de profissionalismo faz com que ele venha experimentando e executando com perfeição novas e perigosas loucuras. Alguém arrisca uma manobra dessas?
E graças a esse super atleta, a modalidade espalhou-se pelo mundo e já temos inclusive representantes em nosso país desenvolvendo o HardCore Sitting - Brazil.

É necessário um treinamento rigoroso, uso de equipamentos de segurança apropriados e uma cadeira de rodas "turbinada" para suportar o tranco (para sermos bem suaves e não falarmos em quedas).

E para quem quiser aprender e saber mais sobre a modalidade, não percam em janeiro um dia inteiro dedicado ao HardCore Sitting. O primeiro evento oficial dos praticantes de HCS no Brasil.

Dia: 22/01/13
Local: Pista de São Bernardo do Campo
Horário: 13:00 às 16:00

Imperdível! Venha conhecer nossos atletas brasileiros.

E Aaron Fotheringham que se cuide, porque já temos o Pedro Henrique, mandando manobras na cadeira de rodas que até então eram exclusividade do mestre.


Mas será que o nosso Pedro Henrique está tão preparado pra já tentar um double backflip? Quem tiver paciência para ver as várias tentativas (leia-se quedas feias) pode conferir aqui.


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Sobre ParaCiclismo... e Inclusão Reversa

Ontem no início da tarde fui surpreendido por várias mensagens nas redes sociais a respeito do falecimento de João Alberto Schwindt Filho, 35 anos de idade e um dos maiores ciclistas paralímpicos do Brasil.

João Schwindt havia sido atropelado aos 14 anos e, em decorrência desse acidente, teve perda de alguns movimentos do seu braço direito. O que não lhe impediu de seguir em frente. O acidente de moto na manhã de ontem em Corumbá - GO, sim...

Esse grande paraciclista representou o Brasil em diversos Mundiais. Conquistou medalhas de ouro e bronze no Parapan de Guadalajara em 2011, além de ter alcançado a 4ª colocação nos Jogos Paralímpicos de Londres em 2012. No último dia 19 de dezembro, foi eleito o melhor atleta brasileiro da modalidade pelo Prêmio Paralímpicos, promovido pelo CPB. E certamente despontava como uma promessa para os próximos anos.

O Comitê Paralímpico Brasileiro, de forma honrosa e com todo respeito ao atleta e seus familiares, decretou luto oficial de três dias.

Esse nosso espaço, humildemente presta uma homenagem e aborda o tema Ciclismo Paralímpico.
O ParaCiclismo teve início na década de 80, quando somente haviam provas para atletas com deficiências visuais. Esses atletas participam de competições nas bicicletas Tandem, com auxílio de um atleta guia, pedalando à frente.
O crescimento acelerado da modalidade fez com que nos Jogos Paralímpicos de Nova Iorque (1984) já participassem, além dos atletas com DV, os atletas amputados e com paralisia cerebral. Desde então foram sendo acrescentadas provas de estrada, classes de competidores de acordo com as deficiências, provas no velódromo (talvez minha única decepção nos Jogos de Londres foi não ter entrado nessa arena) e finalmente  a inclusão das provas de handcycling nos Jogos de Sidney em 2000.

Certamente o maior atleta brasileiro da modalidade foi o santista Rivaldo Gonçalves Martins. Ele foi o primeiro paraciclista representando o país em Jogos Paralímpicos (Barcelo-92),  conquistou o título de campeão mundial na prova de contra-relógio na Bélgica em 1994, além de outras medalhas em Parapanamericanos. Rivaldo é amputado da perna esquerda. Hoje disputa provas de paratriathlon e é membro da CBTri.

Além de Rivaldo e João Schwindt, devemos destacar outros grandes atletas da modalidade como Roberto Carlos Silva e Soelito Ghor, ambos medalhistas em Jogos Parapanamericamos. Nas provas de handcycling não há dúvidas que o maior nome no masculino hoje é o atleta Aranha (já comentamos sobre ele em Brasil: Potência Paralímpica de Inverno) e no feminino a paratleta-revelação em 2011, ao menos na minha opinião, Jady Martins.

Jady, a medalha e eu!
Falo assim da Jady pois a conheci quando recém havia sofrido sua lesão e pudemos trabalhar juntos e conhecer muito do que o esporte paralímpico poderia oferecer.

Sinceramente nunca imaginei que ela se tornaria uma atleta, mas não tenho dúvidas que a vivência em diversas modalidades e tipos de atividades físicas fizeram muito bem a essa paranaense guerreira.
Hoje ela é medalhista de Prata no Parapan de Guadalajara e viaja o mundo competindo e trazendo presentes pra mim (essa vale mais um hein?). E eu sou fã, torcedor e um grande amigo: Vai Jaaaady!!!

Quando ela começou a participar de competições, passei a acompanhar as provas de ParaCiclismo, tendo inclusive presenciado sua primeira participação, aqui em Brasília, no início de 2011.

A última etapa do Campeonato Brasileiro de Ciclismo Paralímpico 2012 aconteceu novamente em Brasília no dia 24 de novembro. Infelizmente, o evento não teve a cobertura jornalística que merecia. Culpa dos organizadores? Culpa da mídia esportiva brasiliense? Culpa minha que fiquei sabendo e não divulguei?

Enfim... Um público muito reduzido prestigiou o evento e basicamente foi composto por treinadores, integrantes das comissões organizadoras, amigos e familiares dos atletas ou ainda fãs completamente alucinados pelo esporte.

E mesmo diante de tanta diversidade, de ciclistas amputados das pernas, dos braços ou com extrema movimentação involuntária que dificulta de forma essencial a marcha, continuo fascinado pelas handbikes. Os atletas dessa categoria cada vez mais crescem no Brasil e foi realmente emocionante ver uma largada com tantas "bicicletas de mão".
Handbikers perfilados após a prova
Até agora só falei de ParaCiclismo... onde está a Inclusão Reversa?

Bem, meu fascínio pela handbike é tão grande, que adquiri de um amigo do interior de São Paulo a minha própria handbike.

Claro que não um modelo desses de competição, mas o suficiente para me divertir e fazer um excelente treino físico cardiovascular, de força e resistência para membros superiores. Uma handbike simples e eficiente; capaz de chamar a atenção de muitos que passam por mim, a ponto de ouvir diversos comentários do tipo: "Quê isso pai!? Um bicicleta pra deficiente, meu filho...", somado a um olhar de pena (do adulto) e de "inveja" (da criança).

Quem conhece o que penso sobre inclusão reversa também já consegue imaginar minhas próximas linhas.

Por que uma bicicleta que se pedala com as mãos tem que ser uma bicicleta para deficientes? Por que as pessoas não podem aproveitar esse recurso tecnológico e se divertir como fazem hoje com as supostas bicicletas normais? Qual a razão pela qual pessoas que não têm qualquer deficiência não podem, além de se divertir, competir em provas de handbike, independente da categoria que seja criada para isso?

Enfim, parece que ao criarmos uma modalidade esportiva para pessoas que não têm movimentação nas pernas, excluímos todos aqueles que têm movimentação nas pernas... Seria mesmo necessário?

Quem acessou o post mais cedo leu que eu estava indo pedalar com uns amigos.
Quem quer ser o próximo?

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

E o Prêmio "HoHoHo" de Esportista do Ano goes to...


... PAPAI NOEL!!!!

Uma colega de trabalho estava me contando que, no ano passado, não teve escapatória e contou pra sua filha de 6 anos que Papai Noel não existia... Alguns outros comentaram que conseguiram esconder o fato por mais ou menos tempo. Mas eu pensava que hoje em dia as crianças já nasciam sabendo que Papai Noel não existe!

Na minha época de criança era diferente. Sinceramente, não me recordo quando deixei de acreditar em Papai Noel. Talvez foi perto dos 16 a 18 anos, quando os presentes que pedia já não chegavam mais e que mesmo passando a noite acordado próximo à árvore de Natal o velhinho barbudo não dava sinais de vida...

Independente dessa mentira natalina, o bom velhinho é um cara simpático e que não está aí para fazer mal a ninguém. Vamos deixar as crianças brincarem de Papai Noel...

Mas esse espaço é pra gente conversar sobre esportes. E um fenômeno que acontece todo ano em diversos locais do mundo são as corridas natalinas, com tema de Papai Noel. Ou seja, os corredores devem se fantasiar com os trajes característicos para participar da corrida.

Esses eventos acontecem nessa época do ano em várias cidades. De Recife-PE, com um grupo de 80 corredores visando arrecadar donativos para comunidades carentes, até Liverpool na Inglaterra, onde a corrida é organizada anualmente e parece ser o maior evento dessa natureza. Nesse ano de 2012 tiveram aproximadamente 8.500 Papais Noéis (é esse o plural de Papai Noel?) correndo pelas ruas da cidade.

Existe inclusive o recordista de maratona vestido de Papai Noel. O inglês Paul Simons completou os 42km no tempo de 2h55m50s e tem seu feito registrado no Guinness World Records 2013.
Mas esse Papai Noel tem se mostrado um grande esportista. Porque temos visto pelo mundo que não é só na corrida de rua que ele se aventura.

Em Maryland, nos Estados Unidos, existe um festival há 23 anos em que diversos Papais, Mamães e Filhos Noéis desfilam sobre as águas com esquis puxados por lanchas e jet-skis.

E nem é só no esqui aquático que esse velhinho manda bem! Vemos nesses dias o Papai Noel radicalizando seja em cima da água ou bem abaixo....
 
No Japão, uma grande estação de esqui oferece entrada grátis para quem acrescenta em seu material de esqui o paramento oficial do Papai Noel. O espetáculo nas montanhas brancas faz qualquer criança (adulto?) voltar a acreditar nessa Lenda e ficar lá embaixo esperando que um daqueles vermelhinhos seja o autêntico Papai Noel que inesperadamente vai trazer o presente dos sonhos.
Eu ainda acredito nesse Papai Noel que sai de casa, põe uma fantasia e vai curtir. Que pode ser diferente, mas é igual para todo mundo, em todo o mundo.

Eu hoje acredito nesse Papai Noel que de toda e qualquer forma tenta ser feliz e não se esconde no pólo norte, não viaja em renas voadoras e só entra pela chaminé das casas quando as crianças estão desacordadas. 

Acho que dá para acreditar no Papai Noel que cuida da sua saúde e participa de ações sociais e ecológicas enquanto incentiva jovens e crianças a acreditarem também, não na lenda, mas na realidade e no prazer de praticar um esporte, uma atividade física. No Papai Noel que sabe a importância de manter uma vida saudável, sustentável e  não mede esforços para se divertir com o OUTRO.

Mas falar de Natal não é só Papai Noel.

Muito acima desse personagem, eu acredito no Natal de Jesus Cristo (alguns dizem que Ele foi o primeiro surfista do mundo ao andar por sobre as águas do Mar da Galiléia).

E a profecia da Palavra de Deus que nos faz lembrar o verdadeiro sentido da Celebração do Natal é essa:

"Pois já nasceu uma criança, Deus nos mandou um menino que será o nosso Rei. Ele será chamado de Conselheiro Maravilhoso, Deus Poderoso, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz." Isaías 9:6

Feliz Natal!!!

E pode vestir sua fantasia de Papai Noel e vai praticar seu esporte preferido.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Prêmio Paralímpico 2012


Cada vez mais o esporte paralímpico cresce no Brasil.

São diversas ações muito bem coordenadas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) que estão impulsionando a passos largos (ou largas rodadas) o desenvolvimento do paradesporto no Brasil.

Nos Jogos Paralímpicos de Londres já fomos a 7ª potência mundial, com 43 medalhas no total, sendo 21 de ouro.

Esse post vai ser curto, porque vou ali assistir a premiação que anuncio aqui.

Mas um detalhe hoje me chamou a atenção. Na verdade, ontem e hoje.

Ontem aconteceu a cerimônia do Prêmio Brasil Olímpico, nossos grandes e reconhecidos atletas do vôlei, natação, futebol (esse nem tanto hein?), atletismo, basquete, boxe (esse é novidade)... Mas tão grandioso evento não teve cobertura televisiva ao vivo...

No entanto, hoje, o Prêmio Paralímpicos 2012 conta com uma ampla cobertura de uma emissora de tv fechada que cada vez mais tem incentivado o Paradesporto, vejam que não estou fazendo publicidade nem recebendo nada em troca. Mas tentando fazer justiça a quem, claro tem interesses próprios, mas cumpre um papel importante.


Parabéns ao Comitê Paralímpico Brasileiro!
Parabéns ao canal Sportv!

E muitos parabéns aos nossos paratletas...
"Queremos mais, muito mais!"


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Poesia do Futebol... Mas não é sobre Futebol!



Pode parecer estranho iniciar meu post com uma foto do Maracanã em festa justamente na semana em que o Sport Club Corinthians Paulista conquistou, com grandes méritos e pela primeira vez a Copa do Mundo de Clubes da FIFA. Deixo meus sinceros parabéns para o Timão! E para toda a nação corintiana (que vontade de escrever "nassão curintiana, meu!" mas não vou entrar na provocação), especialmente para meus primos e amigos queridos.

Como já abordei anteriormente, esse é um espaço democrático e que, apesar de torcer apaixonadamente pelo campeoníssimo brasileiro, não cabe transformarmos esse fórum num local de debate clubístico sobre futebol. Podemos fazer isso em outras esferas.

Então basta de futebol por hoje...

Quero apresentar-lhes um texto que produzi em meados de 2008, quando, apesar de ser brasiliense e já saber que corria em mim sangue carioca, pude viver de forma intensa e repetidas vezes o ritual de ir ao Maracanã.

Eu queria também falar que, cada vez que releio o texto, o coração acelera, as fortes emoções retornam... mas seria super clichê e talvez a leitura não te cause a mesma sensação, o que tornariam piegas essas linhas. Com vocês:

Início de tarde de um domingo de sol no Rio de Janeiro. Já fomos à praia em Ipanema, mas nem voltamos para casa. Um banho de mar e um galeto na esquina, qualquer esquina. De lá, direto para o metrô em Copacabana.

E se antes só percebíamos burburinhos na rua, na praia e algumas camisas isoladas, ao entrar na estação do metrô a sonoridade de alguns cantos e urros ecoando nas paredes frias nos relembravam o calor das grandes paixões.

Esse calor pode ser percebido não apenas em razão dos 40°C carioca, mas pelos 40 cariocas no metro quadrado apertando-se dentro do metrô. E não apenas se apertando, mas compartilhando seu amor, seu suor... Gritando e transpirando, com sua camisa favorita colada ao peito.

Estamos nos dirigindo ao Estádio Mário Filho, mundialmente conhecido por Maracanã, para assistir a uma partida de futebol.

Mas que poder move esse aglomerado de homens? Certamente que eles são a imensa maioria, mas porque não dizer também essa massa de mulheres? Quem trocaria o frescor das águas geladas e o delicioso mate gelado nas areias da praia de Ipanema por acotovelar-se em meio a brados de guerra?

Decidi então me afastar e manter-me como espectador privilegiado, não do clássico, mas das multidões. E por alguns instantes certo pavor tomou conta de mim, vindo pensamentos de que em poucos segundos explodiriam todos ali em êxtase e em rompantes incontroláveis de prazer ou loucura. Mas percebi que o movimento desorganizado conseguia manter-se com certa lógica e harmonia.

Ainda dentro da estação do metrô, sem que a partida estivesse iniciada, e para falar a verdade, no mínimo três horas antes dela, torcedores gritavam e cantavam seus hinos a plenos pulmões. Um gasto de energia e uma desinibição como não se vêem em óperas ou teatros da cidade.


Como espectador, miro os torcedores mais próximos de mim e tento imaginá-los com ternos e gravatas, jalecos, em seus consultórios...

Olho à minha direita e vejo um casal, quem sabe um psiquiatra (que na sexta-feira mesmo receitou tranqüilizantes para o jovem que não conseguia concentrar-se nos estudos e tinha insônia durante a madrugada agitado pensando nas tarefas do dia) e uma enfermeira (que no plantão noturno andava a passos silenciosos e acordava com sussurros seus pacientes para medicá-los e medir a pressão). Ambos com olhos esbugalhados, batimentos acima de 90% da freqüência cardíaca máxima, conversando através de frases desconexas e entremeadas com números e o nome de seu time, inquietos sem fixar o olhar e os pés em um só lugar. Talvez o tranqüilizante lhe coubesse agora, e a pressão da enfermeira alertaria o serviço de emergência do hospital em que ela trabalha. Mas isso lhes dá prazer... Não trocariam por nada. E vejam bem: ainda estão dentro do metrô.

Desembarcamos ainda aos empurrões e levados pela multidão praticamente paramos diante dos portões do maior estádio do mundo. Ecoam cantos e coros. Tremulam bandeiras. Ainda como espectador, faço um exercício de imaginar o que poderiam estar esperando dentro desses portões: talvez uma cartela premiada da loteria para cada um? Ou um carro 0km? Poderia ser ainda a esposa ou o marido perfeito! Um mago revelando o segredo da felicidade eterna...

Mas não! O que os espera são 22 jogadores, fantasiados com roupas coloridas e listradas. 03 indivíduos totalmente de preto (macabro não?). E uma bola... Coitada, só para ser chutada.

Essa empolgação dura por 90 minutos. Gritos, choros, provocações. Homens e mulheres que durante a semana se disfarçam de pessoas contidas, tímidas e pacatas transformam-se em cantores, guerreiros, atletas que ensandecidos emitem todos os tipos de sons e pulam das mais variadas formas.

E em segundos vão da extrema alegria à profunda angústia, e ainda assim se recuperam com o fato de um chute da bola na trave adversária.

Ao final, parece que o movimento se acalma, e então percebo que, na verdade, somente metade das pessoas arrasta-se cabisbaixa de volta aos seus habitat, todo o resto, como veio volta...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Brasil - Potência Paralímpica de Inverno


Muita calma! Não serão nos próximos Jogos Paralímpicos de Inverno em Socchi 2014... talvez nem muito depois disso!

O quadro atual é que dois atletas brasileiros já estão se preparando e sonham em conquistar uma vaga para o Brasil em Sochi/2014.
André Cintra - Snowboard
Fernando Aranha - Cross Country

Como parte da preparação, nessa semana aconteceu a 1ª participação brasileira numa etapa da Copa do Mundo de Esqui Cross Country Adaptado, na Finlândia. O multi-campeão triatleta, maratonista e ciclista Fernando Aranha representou o Brasil nessa prova, alcançando a inédita posição de 24º colocado (ou último, mas à frente de dois que não completaram a prova).

O destaque é que nosso atleta teve um tempo de aprendizagem e treinamento na modalidade de apenas 10 dias, veja que não estou falando somente de adaptação, mas iniciação e treino.

Outro aspecto importante que ainda constatamos com certa frequência no esporte paralímpico brasileiro é que um mesmo atleta participa de competições em diversas modalidades. Isso muito provavelmente devido à escassez de praticantes e competidores, o que prejudica sobremodo o desempenho dos atletas que deixam de realizar treinos específicos no esporte de escolha.

Atualmente sou fascinado pelos Esportes Paralímpicos de Inverno, tendo conhecido essas modalidades em 2008, no Simpósio SESC de Atividade Física Adaptada, que acontece anualmente em São Carlos.

Adaptive Bobsled 

Adaptive Alpine Skiing 
Ice Sledge Hockey
Cross Country Skiing
O Prof. Leonardo Mataruna ministrou um curso no qual apresentou diversas modalidades paralímpicas de inverno e sugeriu a inclusão dessas atividades adaptadas à realidade escolar brasileira, sem neve ou gelo... 

Loucura ou não, foi muito divertido e mostrou-se viável como vocês podem curtir nas fotos.
Olha a gente brincando de inclusão reversa...


Além de ter aprendido muito, esse curso me proporcionou uma grande amizade olímpica!
Ninho do Pássaro em Pequim/2008
Final dos 100mts-Bolt em Londres/2012
Mas esse não é o tema do post! Vamos retomar...

A partir de então, movido pelo interesse em conhecer ainda mais a respeito do universo paralímpico praticado no gelo e na neve, iniciei pesquisas e descobertas interessantes de materiais, fotos, campeonatos e vídeos sobre os Esportes Adaptados de Inverno.

E me emociono, ao mesmo tempo em que me assombro, com a capacidade, ousadia e criatividade de paratletas que, para cada gesto motor, encontram soluções que levam a um desempenho excelente e a uma plasticidade inacreditável. Amputados com uma só perna descendo montanhas de neve, deficientes visuais a mais de 60 km/h executando movimentos perfeitos na descida slalom.

Mas nada até hoje me deixou tão fascinado quanto a manobra executada por Josh Dueck, um paratleta canadense que sonhava em tornar-se atleta olímpico de esqui, mas sofreu uma lesão medular com 23 anos de idade e quase perdeu a vontade de viver.

Somente alguns meses após seu acidente, descobriu o esqui adaptado e hoje faz acrobacias inimagináveis na neve.


Quanto ao Brasil se tornar uma potência paralímpica de inverno, quem sabe na próxima Era Glacial, quando o Pão de Açúcar estiver coberto de neve...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Maratona Aquática... ou nadando em águas abertas


A natação, em suas origens, não começou dentro de uma piscina. O homem, definitivamente, aprendeu a nadar em águas abertas.


Atualmente, essa modalidade vem ganhando grande destaque no cenário mundial, tornando-se esporte olímpico a partir dos Jogos de Pequim em 2008, com o nome de Maratona Aquática (apesar de não serem os 42km da maratona terrestre).


Em 2012, nos Jogos Olímpicos de Londres eu presenciei a prova das mulheres, que consistiu em nadar longos 10km, em circuito fechado, no qual as atletas davam várias voltas e que somente observávamos ao longe. Essa modalidade tinha como uma das favoritas, a brasileira Poliana Okimoto, que abandonou a prova por hipotermia. Confesso ter vivido uma das experiências mais emocionantes desses Jogos Olímpicos.

Explico:
Desde criança meus pais nos incentivaram a fazer natação. Eu e meus irmãos aprendemos a nadar muito cedo. Fizemos aulas e principalmente aproveitamos muito no clube, na praia e ainda mais quando nos mudamos para uma casa com piscina.


Para além da diversão e das questões de segurança na infância, a natação virou coisa séria quando me tornei adolescente.

Fui convidado a treinar na ASEEL, um dos melhores clubes de natação de Brasília no final da década de 80. Não, não estou mesmo me referindo ao passado do clube, como que querendo mostrar que era um local de tradição ou qualquer coisa assim. Coincidentemente, o final da década de 80, a minha adolescência e o período em que comecei a treinar foram eventos simultâneos.

A rotina de treino era de aproximadamente 4 horas/dia, com treinos extras aos sábado, quando não estávamos competindo. Sinceramente, depois de um tempo eu comecei a não curtir muito... e abandonei a natação competitiva.

Entretanto, esses anos foram fundamentais para determinar uma estreita relação com a natação. Mais tarde, quando decidi na minha vida mudar tudo que vinha fazendo para ingressar na Faculdade de Educação Física, um dos meus sonhos era dar aulas na beira de uma piscina. Sonho esse que consegui realizar... enquanto realizava sonhos de outros tantos...

Eu nunca parei de nadar. Hoje tenho certeza que é o meu esporte preferido para a prática. E já, quando adulto, comecei a me divertir nadando no Lago Paranoá. Daí passei a disputar provas em águas abertas, primeiro no lago e depois no mar, já tendo inclusive participado por duas vezes da Travessia dos Fortes.

E essa experiência de águas abertas, para quem nada, dá um novo sentido à natação...

Profissionalmente, consegui também dar treinos em águas abertas. Esse fato foi uma grande realização pela oportunidade de  presenciar a transformação das pessoas. Entrar no lago e conseguir nadar era a plena percepção de um alto senso de capacidade a partir da vivência em uma experiência altamente motivadora e desconhecida. Isso rendeu muitos frutos e sou extremamente grato por esses momentos.

Mas estou falando disso tudo porque nesse fim de semana aconteceu a última etapa do Circuito Brasileiro de Maratonas Aquáticas de 2012. Em cada etapa foram disputadas duas provas: 5km e 10km nas categorias masculino e feminino. A disputa entre as mulheres foi bastante acirrada e, mesmo após assumir a liderança na sexta-feira (07/12/12) ao chegar em 2º lugar na prova dos 10km, o título não estava garantido à atleta Ana Marcela.

No domingo e ao final da etapa, a grande campeã foi mesmo Ana Marcela, que nas últimas 7 edições conquistou 6 campeonatos, além de ser a detentora do BiCampeonato da Copa do Mundo de Maratonas Aquáticas.

Diante do currículo dessa nadadora, não causa estranheza mais um título. O fato curioso que eu gostaria de ressaltar é que a última prova do ano foi decidida no "tira-teima" por meio do recurso tecnológico de filmagem do momento da chegada. As atletas Poliana Okimoto e Ana Marcela, após 1h00m26s de prova terminaram a prova empatadas.


Considero um aspecto sensacional termos duas atletas brasileiras de nível internacional que após mais de uma hora de prova batem no portal no mesmo momento.

Chances de medalhas no Rio 2016.
Chances de vitórias brasileiras nos próximos anos, como já vem ocorrendo.
E muita chance da gente se motivar e continuar ou começar a nadar...

Será que você anima a dar umas braçadas hoje?

O Ministério da Prevenção de Acidentes do blog adverte que nadar em águas abertas sem companhia e sem experiência é extremamente perigoso.